sábado, 27 de novembro de 2010

Rotineiro.



- Pode ir, vá. - Disse ela, sem receios.
 Ele a olhara. Sabia bem que poderia ir em silêncio, sem que ela sequer pudesse perceber. Mas continuara ali, alternando seu olhar entre ela, e o céu. Era noite de lua cheia, com algumas nuvens, e poucas estrelas. Perfeito, ao seu ver.
 Ele estava apreciando o cheiro da brisa que refrescava seu rosto, e fazia aquelas plantas balançarem, se mexerem, como numa dança sem fim. Aquele cheiro lhe era familiar, lhe lembrava sua infância. Ele sabia que toda aquela história de fantasias, saudades, nostalgia, banalidades, não passava de uma ilusão. Já havia posto em sua mente, que coração nada mais era do que um pretexto para se magoar, cada vez mais e mais. Mas ele sabia que se coração era igual a dor, sua dor batia por ela. Ele sabia que estava disposto a enfrentar seus pais, furacões, vendavais, toda tempestade que viesse, se fosse preciso. Aquela moça, que estava a molhar as plantas. Era ela, que enfeitava aquela vida vazia.
 Seus olhares não se cruzavam nunca. Ela havia o pedido para que lhe fizesse companhia, pois a luz era baixa, o que mais iluminava aquele ambiente, era a Lua, e isso certamente deixaria com medo, qualquer dama.
 Ele tentou até o fim, para que ao menos uma palavra fosse trocada, mas a única coisa que se foi dita, foi um "Pode ir, vá." e um "Eu não te conheço mais.".
 Daquele momento em diante, aquele homem sabia, que em seu peito, tudo o que restaria seria um buraco. Um oco. Um nada. Ela poderia se dirigir a ele, como um vagabundo qualquer, ele nunca se importaria com isso, pois sabia que o coração daquela moça frígida por fora, dizia o contrário. Porém, ele só saberia disso, se ela o olhasse nos olhos. Mas isso nunca aconteceu. Nunca mais.
 Ele se levantou. foi embora, em silêncio. Como pensara que seria desde o começo. Pensou em diversas coisas. Uma delas, foi em ir embora, desta vez, para sempre. Porém, escolheu ficar. Iria apreciar aquela dor até o fim. De longe, a partir daquele momento.
 E para os que dizem que indiferença não mata. Ah, ela mata sim.

terça-feira, 23 de novembro de 2010



Mais um copo de vinho, por favor.
Sim, mais um trago, que eu preciso dar.
Porque diante de tudo, diante de toda a situação, ouvir tudo aquilo
                                                                           - e logo de você
Era tudo o que eu não precisava.
Mas certa vez, meu caro amigo, um grande compositor de nome Cassiano
que também escreveu sobre a lua e ele mesmo,
Disse: "Um dia você vai ouvir de alguém o que ouvi de ti,
então irá pensar como eu sonhei em vão."
Um sonho muito mal começado, vale ressaltar.
Um sonho fantasiado com mínimas possibilidades, onde ninguém tem culpa,
onde ninguém pensa, tudo o que há, meu amigo homem, é o desejo, é a carne, é o sexo profundo,
aquele mesmo que tantos aproveitam como a boca vermelha de uma bela dama, aquela mesma,
pela qual você olhou, olhou de novo, e olhou mais uma vez.
E onde há amor platônico, há sentimento, meu bem. 
Onde há este tão diferente amor, há sofrimento, meu tão grande bem.
Mas, meu tão grande bem,
não há como seguir. Não se dá chance duas vezes a um mesmo coração partido.
Por isso, fico eu aqui, com meus cigarros, vinho,
e claro, minha e só minha,
Lua.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Navegue.



Aviso aos navegantes.Só aqueles que se consideram "conselheiros".
 - Nunca digam que vai passar.Que vai passar todos sabem, mas o 'todos' não quer saber do que vai acontecer no futuro. O 'todos' quer saber do agora. Do momento.
 - Se estiverem sofrendo por amor, não tente amenizar as coisas dizendo que há milhares de pessoas no mundo. Disso todos sabem também. Mas se o 'todos' quisesse ficar com milhares de pessoas, não estaria sofrendo por uma.
 - Se estiverem sofrendo por morte, não diga que foi porque chegou a hora. Adivinhem? T-o-d-o-s sabem disso. O 'todos' não se importa com a hora que passou, a hora que vai vir, ou a hora que chegou. Eles se importam com a pessoa que morreu. Acredita?
Aviso aos navegantes. Só aqueles que se consideram "conselheiros".
Se querem ajudar dizendo algo, não digam nada.

Desabafo pequegrande.



Sabe, eu sempre paro pra refletir, 
pra pensar,
pensar em agir,
falar, falar, falar.
Pensar.
Nunca havia parado pra pensar no quão fraca e quão covarde eu sou.
As coisas que já fiz, as vezes que quase morri...
E que abaixei minha cabeça, quando tudo o que eu precisava era mantê-la erguida.
E quando eu menti pra mim? Lembra?
Você ainda lembra?
Naquela vez, que todos sorriram e eu fiquei parada, observando a paisagem
contemplando a falsidade de todos aqueles sorrisos.
E quando eu insistia em contar as lágrimas,
você lembra?
Você ainda lembra quem eu sou? Eu não lembro. Há tempos.
Eu não lembro mais da minha voz. Eu não lembro mais da minha imagem.
Eu não lembro quem eu era ano passado. Eu nem lembro quem eu era ontem.
Eu só lembro daquele dia, aquelas risadas, aquelas vozes
elas me faziam tão bem, sabia?
E cadê elas hoje? Não, não foram embora, elas saíram pra passear.
Porque você não foi junto? Porque insiste em ficar comigo?
O que você vê em mim? Você vê a mesma coisa em todos os outros?
Nem todos mentem pra si, sabia?
Nem todos... Mentem pra si.
Mas eu te agradeço. Agradeço por me ouvir, ao menos.
Céu. Tu és... Eu não diria bonito, eu diria... compreensivo... Até demais. Tu me escutas, Céu.
Tu me dizes o que eu preciso, mesmo quando o que eu preciso, é o silêncio, Céu.
Céu, promete que nunca vai embora? Promete? Promete que nunca vai sair pra passear, e não mais voltar?
Eu sinto tanta falta, Céu...
Mas eu soube que estão todos bem. E eu acho que é isso que importa. Se não for isso, além de tudo, vou ser chamada de egoísta, sabia?
Eu não queria, sabe, Céu. Eu não queria que as coisas ficassem assim.
Mas pra eles está tudo bem. Está sim. Quem se importa? Os sorrisos ainda estão lá.
E quando a gente se abraça, parece que o tempo não passou.
O problema é quando a gente se separa, que a realidade volta.
Mas Céu, eu tenho a ti. Pra me escutar.
Pra refletir.
Pensar.
Agir.
Falar, falar, falar.
Pensar.




Muito obrigada, Céu. Muito obrigada.



quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Hoje a inspiração resolveu não bater em minha porta.



Então aqui vou pôr, um dos textos mais bonitos que já pude ler (e ouvir) na minha vida.
Trata-se do encerramento do livro Marley E Eu, do John Grogam. 



" (...) Marley como mentor. Como professor e exemplo. Seria possível que um cachorro - qualquer cachorro, mas principalmente um absolutamente incontrolável e maluco como o nosso - pudesse mostrar aos seres humanos o que realmente importava na vida? Eu acreditava que sim. Lealdade. Coragem. Devoção. Simplicidade. Alegria. E também as coisas que não tinham importância. Um cão não precisa de carros modernos, palacetes, ou roupas de grife. Símbolos de status não significam nada para ele. Um pedaço de madeira encontrado na praia serve. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Um cão não se importa se você é rico ou pobre, educado ou analfabeto, inteligente ou burro. Se você lhe der seu coração, ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não. Enquanto eu escrevia a coluna de despedida do Marley, descobri que tudo estava bem à nossa frente, se apenas pudéssemos ver. Às vezes, era preciso um cachorro com mau hálito, péssimos modos e intenções puras para nos ajudar a ver."



O texto é um pouco diferente do que aparece no filme, mas é porque foi tirado diretamente do livro.